O acelerado processo de envelhecimento populacional é um fenômeno caracterizado pela mudança no perfil etário da população que se já consolidou em escala mundial, pois tem sido cada vez mais presente em diversos países, independentemente do estágio de desenvolvimento. No Brasil, o envelhecimento populacional tem ocorrido de maneira ainda mais rápida, trazendo à sociedade preocupações epidemiológicas, econômicas e sociais.

Um desafio que tem se mostrado presente quando se analisa o aumento da população idosa é a questão dos maus-tratos contra este grupo. A violência contra a pessoa idosa é considerada um problema de saúde pública, pois pode trazer diversos prejuízos à pessoa idosa, com sequelas irreversíveis à sua saúde, o que onera gastos no setor de saúde e também prejudica o desenvolvimento econômico e social de um país.

O objetivo deste estudo foi analisar, por meio de modelos de regressão logística simples (análise univariada), os fatores associados à ocorrência de maus-tratos contra pessoas idosas no município de São Paulo em 2015. O conhecimento desses fatores é essencial, pois o planejamento de ações e programas eficazes de prevenção à violência se baseia na compreensão deles.

Foram utilizados os dados da Pesquisa Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE) de 2015 - um estudo transversal de base populacional realizado em sete cidades da América Latina e Caribe, no Brasil realizado na cidade de São Paulo (SP) - que revelaram que 12,6% das pessoas idosas foram vítimas de alguma forma de maus-tratos.

Os resultados mostraram que fatores distintos, relacionados tanto à características sociodemográficas (sexo feminino, faixa etária de 60 a 69 anos, situação conjugal solteiro ou viúvo), econômicas (possuir plano de saúde, ter suficiência financeira), da rede de apoio familiar e social (ter alguém para auxiliá-las, ocorrência de críticas, isolamento familiar e/ou social, família caracterizada como disfuncional), do estilo de vida (índice de bem-estar ruim) e das condições de saúde da pessoa idosa (auto avaliação regular, ruim ou muito ruim, não ter um bom estado nutricional, ocorrência de quedas, diagnóstico de depressão) estão associadas à ocorrência de maus-tratos contra elas.

Os resultados obtidos revelaram o quanto esse tema é complexo, uma vez que os fatores associados se encontram vinculados a diversas esferas da realidade, indicando também que o enfrentamento deste problema é uma tarefa igualmente difícil, o que torna fundamental a ampliação de investigações nesta área e a promoção de políticas públicas que atuem com objetivo de melhorar a qualidade de vida e saúde das pessoas idosas e prevenir a ocorrência de maus-tratos.