| IX Congreso - ALAP 2020 | Resumo: 10399-2 | ||||
Resumo:Estudos realizados nos Estados Unidos, Europa, Austrália e América Latina sugerem que lésbicas, gays e bissexuais (LGB) enfrentam maiores dificuldades no acesso e utilização de serviços de saúde, quando comparados aos seus pares heterossexuais. Nessa discussão, o contexto brasileiro se apresenta como uma oportunidade para investigar essa questão de forma mais aprofundada, visto que o país conta com o maior sistema de saúde público e universal (SUS) do mundo, e estabeleceu uma política de saúde integral LGBT há quase uma década. Contudo, a falta de dados oficiais sobre a sexualidade dos seus cidadãos torna essa tarefa desafiadora. Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivo comparar a utilização dos serviços de saúde da população LGB em relação à população geral do Brasil e de Minas Gerais. Para tanto, utilizamos as informações do "Manas", um estudo de método misto realizado em 2019 com 756 indivíduos LGB, entre 18 e 65 anos, residentes em Minas Gerais (MG). Comparamos suas experiências com os resultados da população geral, após padronização para idade, sexo, raça/cor, escolaridade e cobertura de plano de saúde. As dimensões de saúde dos entrevistados foram avaliadas com base no estado de saúde autorreferido e nas variáveis de utilização dos serviços de saúde da Pesquisa Nacional de Saúde 2013-2014. Os resultados mostram que, embora as pessoas LGB em MG classifiquem sua saúde geral como pior do que seria esperado se possuem a composição socioeconômica da população brasileira, elas são mais propensas a reportar uma visita recente a algum serviço de saúde. Apesar do maior nível de utilização do que os demais grupos populacionais no Brasil, este uso concentra-se nos serviços de emergência ao invés dos serviços de atenção primária. Análises qualitativas preliminares sugerem que as experiências de discriminação ao longo da vida fazem com que muitos indivíduos LGB adiem a procura de cuidados de saúde até atingirem uma condição aguda, o que ajuda a entender o resultado observado para serviços de emergência. Outra observação recorrente foi a de que muitos procuram prestadores privados recomendados por amigos e conhecidos, mesmo quando os custos são mais altos, no intuito de evitar a possibilidade de receberem tratamentos que desrespeitem sua orientação sexual. Isso resulta em encargos financeiros que muitos não podem arcar. Nossos resultados ressaltam a necessidade de expansão do treinamento dos profissionais de saúde visando melhorar o acolhimento, a assistência e, consequentemente, a resolutividade das demandas de saúde de pessoas LGBT. A formação profissional com esse foco poderia aumentar a utilização da atenção primária por essa população, reduzir o seu risco de empobrecimento devido ao uso de serviços de saúde além de otimizar a utilização de recursos no nível do sistema de saúde. Palavras-chave:
acesso, saúde, LGB
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