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IX Congreso - ALAP 2020 Resumo: 10430-2

10430-2

Solidão na velhice e comportamentos de risco em saúde: uma análise comparativa Brasil-Europa

Autores:
Alice Delarue Matos , Ana Maria Nogales Vasconcelos , Gina Voss
1 UMinho - Universidade do Minho, 2 UnB - Universidade de Brasília

Resumo:

Na literatura científica, as definições de solidão não são consensuais ainda que diversos autores considerem tratar-se de uma experiência negativa, resultante de um desajustamento entre as relações sociais desejadas e as experienciadas. A solidão é frequente em indivíduos de idades elevadas e tem sido associada, nas pessoas idosas de ambos os géneros, a menor saúde auto-reportada (Stickley A et al., 2013), sintomas depressivos (Cacioppo JT et al., 2006), declínio cognitivo (Shankar A et al., 2013), doenças do coração (Holt-Lunstad J, Smith TB, 2016), e diversas causas de mortalidade (Holt-Lunstad J et al., 2015).

O objetivo do presente trabalho foi descrever a prevalência da solidão entre idosos e explorar a relação entre a solidão e os dois comportamentos de risco em saúde citados: a inatividade física e o consumo inadequado de frutas e legumes. O estudo tem por base os dados do SHARE (vaga 6) e do ELSI-Brasil (vaga 1) e incide sobre a população dos 50 aos 89 anos, adotando uma perspetiva comparativa Brasil/Europa, com um olhar especial para Portugal. Uma vez que tanto a solidão como os comportamentos de saúde diferem por gênero, o estudo inclui ainda esta perspetiva.

O sentimento de solidão atinge 10% das mulheres europeias (dos países que participam no SHARE) e 5% dos homens enquanto que, no Brasil, esse sentimento é reportado por 20,3% das mulheres e 9,2% dos homens. A inatividade física, avaliada pelo não envolvimento em caminhadas, atividades moderadas ou vigorosas, sem considerar o período de exercício, atinge 16% das mulheres e 11% dos homens europeus e, em torno de 13,5% de mulheres e homens no Brasil. A dieta inadequada em termos de consumo de frutas e legumes é verificada em 19% das mulheres e 29% dos homens na Europa enquanto que caracteriza 25% das mulheres e 37% dos homens no Brasil.

Para responder à questão subjacente a esta pesquisa, foram realizadas análises de regressão para cada levantamento e para cada gênero, em que se procurou explorar a relação entre a solidão e os dois comportamentos de risco de saúde indicados (inatividade física e consumo inadequado de frutas e legumes), controlando-se algumas características demográficas e socioeconómicas dos indivíduos, geralmente associadas aos comportamentos de risco em saúde, tais como idade, escolaridade, situação conjugal, rendimento, saúde física e mental.

Muito embora, não tenha sido observada associação significativa entre os comportamentos de risco e a solidão, nota-se que esse sentimento é importante para compreender outros aspectos relevantes relacionados à qualidade de vida da pessoa idosa, sobretudo no que diz respeito à saúde mental. Será importante avaliar em estudos futuros, qual o impacto das restrições impostas pela pandemia da Covid-19 sobre o sentimento de solidão e por conseguinte, quais os impactos nos comportamentos de risco em saúde.

Palavras-chave:
 solidão, atividade física, envelhecimento