| IX Congreso - ALAP 2020 | Resumo: 10448-1 | ||||
Resumo:Desde o século XVI africanos escravizados foram introduzidos em larga escala na América portuguesa. Esse processo de transferência forçada de grandes contingentes populacionais através do Atlântico é foco de extensa bibliografia, que busca retraçar cada etapa desse processo. Todavia, talvez o momento menos conhecido seja o de inserção desses cativos dentro das unidades produtivas. Nesse sentido, o enfoque que daremos aqui é o de melhor caracterizar esse momento através da análise dos registros paroquiais de batismo desses africanos em duas paróquias, Itu e São Luiz do Paraitinga, que apontam para uma realidade surpreendente e não apontada pela historiografia da escravidão: africanos somente passaram a ser batizados na paróquia de destino a partir de princípios do XIX. Surpreendente, pois africanos eram abundantes nas terras paulistas naquele momento Ou seja, o batismo teria ocorrido em outro momento, em algum instante do circuito do tráfico: no porto de embarque ou desembarque, ou no navio. Tradicionalmente, o batismo tem sido tratado, pela historiografia, como cerimônia de grande importância no esforço de inserção do africano no novo espaço em que era introduzido à força. Convertido, mesmo que inconscientemente ou forçado, ganhava direito a contar com padrinhos, figuras centrais a garantir apoio dentro da senzala. Todavia, se batizado em outra paróquia que não aquela onde se situava a propriedade de seu senhor, os padrinhos, fossem quem fossem, teriam ficado para trás, perdidos na distância, sem quaisquer condições para exercerem o papel que, pelas regras da Igreja, lhes era reservado e se revestia de grande importância. Assim, a primeira constatação deste trabalho é que, até princípios do século XIX, e nessas duas paróquias da capitania/província de São Paulo, o batismo de nada servia de concreto para amparar o recém-chegado. Mas, curiosamente, é nos primeiros anos do XIX que esta prática se altera, e africanos passaram a ser assiduamente batizados localmente, embora muito provavelmente alguns ainda chegassem batizados em outra paróquia. Por razão ainda não muito clara, operou-se uma mudança na prática. Com isso, a batismo passou, agora sim, a ter o papel que lhe era destinado. Padrinhos e madrinhas foram selecionados dentro da oferta local, fossem eles cativos ou livres. Daí a intenção outra deste trabalho: reconstituir os padrões desse movimento. Primeiro, ao buscar identificar a sazonalidade do tráfico, ou pelo menos a sazonalidade dos batismos de africanos nas duas paróquias, que certamente refletia a sazonalidade do tráfico atlântico em si. E, a seguir, buscar melhor caracterizar a sazonalidade das compras, observadas por senhor, no esforço de detectar como as inflexões do tráfico atlântico – em especial a tentativa de extingui-lo ou as variações do mercado das commodities coloniais – se refletiram localmente nas estratégias senhoriais de renovação de sua força-de-trabalho cativa. Palavras-chave:
escravidão, família, redes
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